Dostoiévski e Jung : A psicologia da introversão no Ato de fé.
- alexandremorillas65

- 18 de out.
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Atualizado: 28 de out.
A razão sentimental na obra de Dostoiévski.
Ivan disse a seu irmão Aliócha Karamázov que o Reino de Deus se encontra para além do mundo euclidiano das três dimensões. Esta reflexão que envolve o sacrifício da razão tal como C.G. Jung atribuiu a Tertuliano¹, não parece predominar em Dostoiévski com a extirpação dessa capacidade, conforme a tese junguiana propõe, mas remete a algo que toda natureza intelectual está fadada, que é o confronto com o desconhecido, um terreno onde o conhecimento não habita e outras características intocadas até então começam a tomar corpo tornando a razão uma escrava, conduzindo-a a seu bel-prazer. Esses elementos, que não compreendem de forma alguma as leis humanas que procuram encontrar padrões na natureza, foram as molas propulsoras da criatividade de um escritor que evocava forças nas piores condições de ordem mental e, consequentemente, físicas - e que lhe possibilitaram produzir obras que nunca mais, em parte alguma do mundo, se repetiram de forma aproximada - revelam que a capacidade intelectual humana depende de certos propósitos que não podem ser destrinchados por nenhum perfil escolástico, por mais versado que seja o indivíduo. Houve algo maior do que ele e que brincava com sua maneira de ver o mundo, forçando junções conceituais que se entrechocavam, produzindo monumentos que impactariam a vida de outros indivíduos que colheram a essência de seus escritos e semearam obras que não perecem no tempo, entre elas, as produções de Nietzsche e Freud. A construção narrativa carregada da natureza intelectual de um escritor que encontrou em outros artistas das letras suas referências, trazia algo a mais, ressuscitando personagens gogolianos e refazendo-os em níveis profundos, onde o risível perdeu o tom dando lugar ao drama, despertando sentimentos nos leitores que talvez estes não quisessem tomar consciência. O artista em Dostoiévski se encontra com o psicólogo Jung em esferas sobre as quais ambos evitaram falar abertamente, mas no que coube à comparação com o sacrifício do intelecto por ser um perigo que unia Tertuliano ao mundo, não houve tal conversão em Dostoiévski, que manteve um vínculo com o mundo além da conta preenchendo diários, acompanhando casos corriqueiros ou judiciais, fazendo do mundo o seu laboratório artístico, o que não o impediu de avaliar em seus atos de fé no Cristo a condição humana sob a perspectiva do intelecto, às vezes conduzido por correntes ideológicas, outras, amadurecendo no processo de convivência com o povo russo e produzindo suas impressões.
JUNG, C.G. Tipos Psicológicos. Tradução de Alvaro Cabral. 4 ed . Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.p.33.
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