Freud e a psicanálise.
- alexandremorillas65

- 13 de ago.
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Atualizado: 28 de out.
Fundamentos básicos da teoria.
A psicanálise é uma prática teórica desenvolvida pelo neurologista Sigmund Freud por volta da década dos anos 1890. Seu objetivo era explicar as estruturas que compõem o psiquismo humano por divisões instanciais, onde os mecanismos de defesa inconscientes através das pulsões, determinavam o caráter neurótico do indivíduo. Influenciado principalmente por Shakespeare, Darwin e Dostoiévski, o médico revolucionou com a publicação de "A Interpretação dos Sonhos"(1900), revelando uma nova forma de compreender o funcionamento da mente, passando a considerar o fenômeno onírico, a fachada que encobre as intenções, desejos em geral. Através da hipnose, prática estudada em Paris com Jean-Martin Charcot, também procurou investigar as causas, muitas delas aparentemente orgânicas, conhecidas como histeria, que estariam provocando os sintomas neuróticos. Não demorou muito para que o jovem Sigmund percebesse que aquilo que o paciente dizia sob efeito da hipnose, também o podia dizer relaxado apenas com os olhos cerrados, deixando a mente livre, falando tudo o que se passasse em sua mente. Desta forma, surgiu a prática das associações livres que permitiam o acesso ao inconsciente, juntamente com a análise dos sonhos, fornecendo material suficiente para suas investigações. A psicanálise abordou muitos temas que encerram em nossa cultura toda a história mental do indivíduo ocidental, como religião, psicologia de massa, felicidade, arte, ciência e filosofia.
A importância dos discípulos.
Muito do que Freud aperfeiçoou na teoria que desenvolveu, se deve aos discípulos que compuseram o corpo psicanalítico que surgiu em reuniões que ocorriam às quartas-feiras. Alfred Adler, Otto Rank, Wilhelm Stekel, para citar os mais influentes dissidentes, foram a pedra angular da teoria freudiana, sendo esta coroada com o mais significativo discípulo na vida de Freud, o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. "A Interpretação dos Sonhos" foi e continua sendo a obra fundamental que fez com que os discípulos se aprofundassem nesta janela para o inconsciente, oferecendo inúmeros exemplos para o campo dos símbolos que povoaram não só os indícios característicos que os sonhos revelavam em sua fachada, mas também para o terreno da vigília do indivíduo, através de uma infinidade de manifestações sintomáticas, muitas delas catalogadas e relacionadas por Stekel, como opressões no peito, espasmos da glote, acessos de asma, formigamentos, fobias, hipocondria, e mais. A psicologia de massa, tema publicado por Freud em 1920, citando as observações de Gustave Le Bon, ganhou força em obras posteriores por Wilhelm Reich, Erich Fromm, e anos mais tarde, por C.G.Jung. Reich apontou que os traços de caráter mostravam muito daquilo que o próprio indivíduo negava em si próprio, ou seja, o inconsciente também se manifestando através dos gestos, expressões faciais e tons da voz. Mais vias de entrada para acesso às profundezas humanas, que autores como Gógol e Dostoiévski, ilustraram tão bem, sendo o primeiro, podendo ser considerado junto a Karamzin e Shakespeare, um dos primeiros analistas do caráter no Ocidente. Quanto a Adler e Jung, os pilares da teoria psicanalítica foram não só definidos como as diretrizes das pulsões e suas vicissitudes, trazendo ao fundador da psicanálise, obstáculos de ordem muito mais pessoal, no confronto com as divergências desses discípulos, do que estrutural acerca do curso da libido. Para Adler, era a vontade de poder, que guiava o indivíduo; para Jung, o inconsciente coletivo estava muito abaixo das etapas biológicas da vida, mas que regia todo o fenômeno mental e orgânico. Jung não via diferenças entre a vontade de poder e a teoria sexual freudiana, apenas apontando que ambas tratavam da mesma coisa, iluminada de pontos de vista distintos. Por mais que a psicanálise seja um legado, a colaboração de alguns discípulos enriqueceu a teoria que inevitavelmente está sujeita à revoluções.
A sexualidade.
Quando Freud, em plena era vitoriana tocou no tema da sexualidade para explicar a fonte dos sintomas neuróticos, teve de enfrentar toda uma muralha acadêmica que reagiu hostilmente em relação à revolucionária forma de lidar com os transtornos de ordem mental. Cercada de um tabu extremo, a sexualidade não era sequer a última possibilidade do corpo médico, considerá-la um princípio de causas sintomáticas. Freud precisou remar contra uma maré que poderia custar sua reputação e carreira, e com coragem, apostou alto numa moeda, que culminou na mais ousada forma de investigação científica através do modelo newtoniano, que mudou a forma de pensar a mente humana no século XX. O desafio era fazer com que compreendessem que a energia sexual, denominada libido, tratava da energia vital que não estava reduzida às funções sexuais dos aparelhos genitais, mas que se manifestava em todas as esferas da vida, como a fome e o calor humano maternos, a rivalidade hostil para com a figura paterna, as necessidades fisiológicas, as amizades, as inclinações profissionais de toda ordem, os jogos, enfim, toda relação humana frente aos valores do mundo. Para isto, Freud apresenta a teoria do aparelho psíquico bem melhor delineada em sua segunda tópica, dividindo o psiquismo em três instâncias: ID, EGO e SUPEREGO, doravante ISSO, EU e SUPEREU, de acordo com as novas traduções feitas a partir do original em alemão. O ISSO, representa para Freud a matriz das pulsões, onde a energia psíquica é manifestada de determinados pontos de vista: topográfico, dinâmico, econômico e funcional.
Topográfico.
A divisão topográfica divide a mente em consciente, pré-consciente e inconsciente. A primeira, diz respeito à consciência funcional voluntária do dia a dia ligada às capacidades cognitivas, como intenções, raciocínio, pensamentos e lembranças. A segunda, já apresenta características de acesso à consciência, com um certo esforço por parte do indivíduo. O esquecimento de nomes, intenções, melodias, ou o reconhecimento de fisionomias, exigem um grau de investimento de energia necessário para que emerjam para o consciente. Por último, o inconsciente é a região onde o acesso nos é velado através da censura e mecanismos de defesa que impedem a tomada de consciência de conteúdos significativos que foram reprimidos, e também a uma área mais profunda ligada ao recalque, que age no processo de formação e desenvolvimento fisiológicos que conduzem a configuração da parte modificada do ISSO, denominada EU.
Dinâmico.
Este ponto de vista caracteriza-se por determinar o curso da libido e sua relação com as instâncias psíquicas. Trata da censura na parte inconsciente do EU, que sob influência do SUPEREU, reprime os impulsos proibidos pela cultura, criando um dinamismo através dos mecanismos de defesa, que mantém a estrutura do aparelho psíquico intacta. A neurose é um conjunto de fatores que atua, definindo o caráter do indivíduo em relação aos valores externos, seu modo de sentir e estar num mundo representado mentalmente como objeto.
Econômico.
Neste caso, a libido atua como um fator quantitativo, que investe sua energia nas representações mentais de objeto (memória do afeto). A relação que a libido estabelece com os objetos, geralmente pessoas, está diretamente ligada aos primeiros objetos da infância, como a mãe e o pai. O primeiro vínculo emocional do sujeito torna-se o modelo de representação nas experiências posteriores da vida, como é o caso de esposas, maridos, amigos, ou colegas de trabalho, se tornarem alvos de deslocamento do afeto (transferência, no processo analítico), que originalmente são direcionados às primeiras representações de objeto da infância (pais, irmãos, criados), e implicam uma série complexa de conflitos que do ponto de vista econômico, provocam descargas de afeto, quando essas representações são investidas. O fenômeno do luto é um exemplo. A perda de um ente querido, ou o término de relacionamentos, faz com que o EU não consiga conter os impulsos investidos que determinaram o valor emocional que uma pessoa representa como objeto, refletindo diretamente a descarga no corpo, acionando o sistema nervoso central.
Funcional.
Funcionalmente, a energia psíquica busca a satisfação plena através dos impulsos, cuja regência, ocorre por parte do princípio do prazer. O ISSO é movido pelo puro prazer, é irracional, e acaba por ser administrado pelas duas instâncias que impedem sua total manifestação.
Psicanálise e psicoterapia.
A investigação dos processos psíquicos, possibilita ao analisando trabalhar novas formas de interação com o meio, refletir aspectos sobre si mesmo, permitindo-lhe seguir em frente na elaboração dos conteúdos conscientizados. É muito importante o acompanhamento terapêutico, quando nos encontramos mudando o paradigma. O amadurecimento em relação às questões profundamente significativas, enriquece a experiência, e revigora os pontos onde a libido fora interrompida, permitindo seu livre curso natural. Cabe-nos a manutenção de nosso histórico mental de vida, o reconhecimento de quase tudo que nos formou como indivíduos, se quisermos manter uma relação saudável com um mundo de complexidades intermináveis. Altos e baixos fazem parte da vida, e saber lidar com a pressão do meio, é fundamental para uma boa performance no campo afetivo e profissional.
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