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Identificando relações entre sintomas e possíveis causas.

  • Foto do escritor: alexandremorillas65
    alexandremorillas65
  • 1 de set.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 4 de nov.

Psicologia geral do medo.


A procura por terapia, geralmente ocorre quando sintomas, ou indisposições de ordem emocional, passam a exercer influência considerável. Neste artigo, tratarei da questão sobre a psicologia geral do medo.  A incerteza sobre o que pode nos acontecer no futuro é o agravante que desencadeia uma série de sintomas e reações, cujas causas ou predisposições, já se encontram no indivíduo desde cedo na vida.  A propaganda do medo está presente em quase tudo o que nos rodeia, e hoje, nos dispositivos que carregamos na palma da mão, o medo aparece em formas de cortes de vídeos, onde em poucos minutos, somos bombardeados com todo tipo de notícia catastrófica, desde acidentes a escândalos políticos que nunca são solucionados, até a conteúdos gerados pelos “escolhidos por Deus”, que estão em melhores condições do que aqueles que “se deram mal”, e que não podem desfrutar daquela felicidade compartilhada. O medo é uma reação diante do desconhecido, que pode ser associado ao  total aniquilamento, à morte. Essa fantasia povoa o imaginário coletivo desde tempos remotos, e no caso específico do Ocidente, os inúmeros símbolos que representam uma ameaça a nossa autoestima, interferem na capacidade de concentração, pelo fato de a mensagem ser dirigida diretamente às questões inconscientes que são estimuladas, produzindo conflitos que geram os sintomas. A pandemia entre 2020 - 2022 foi um exemplo a olhos vistos do surto coletivo de desencadeamento sintomático, que enfraqueceu a censura, neutralizando em certo grau as resistências inconscientes, onde os conteúdos traumáticos que dormitavam “tranquilos”, escondidos da mente consciente, viessem à tona, sem o menor elemento apaziguador, seja religioso, político ou científico, que pudesse conter os impulsos; pelo contrário, essas três entidades, exerceram uma enorme pressão sobre a consciência moral, que carrega os aspectos primordiais punitivos de ordem religiosa, provocando um grande estrago psíquico em centenas de milhares de pessoas, colocando-as em estado de alerta. Um ser microscópico, invisível, podia estar em todo lugar, onipresente, “procurando sua próxima vítima”.  No fundo, o medo do vírus, mesmo naqueles que padeceram do contágio, era o medo dos próprios conteúdos escondidos. A memética, estudo desenvolvido pelo etólogo Richard Dawkins, que trata do meme como um analógo do gene, uma unidade que, por "contágio", se propaga de uma consciência para outra - tema gritantemente copiado de Gustave Le Bon em seu "Psicologia das Multidões" - , é um bom exemplo de como um símbolo propagado milhares de vezes, desperta os mais escondidos segredos que atormentam as massas populacionais. O meme do vírus serviu como um símbolo da autopunição, paralisando milhões de pessoas com infindáveis questões psicológicas mal resolvidas, fruto do desconhecimento completo do histórico emocional de suas vidas. Com este exemplo, temos os clássicos sintomas  conhecidos pela maioria das pessoas: fobias, crises de pânico, transtornos obsessivos, insegurança, medo de ameaças invisíveis, medo do futuro, fugas da realidade e mais, que no fundo não passam de sintomas que simbolizam o medo daquilo que guardam dentro de si mesmos.


De onde vem o medo?


Abordar a gênese do medo, implica questões do desenvolvimento da consciência no processo evolutivo.  A princípio, o mistério da origem da linguagem no cérebro - que envolve a formação de conceitos e estes, os pensamentos - , divide opiniões. Uns defendem a seleção natural, gradual e lenta, outros, apostam no grande salto para frente, compreendido mais tarde entre os bioquímicos, como mutação genética, ou como defendeu Schrödinger, “um salto quântico dentro da molécula do gene”. Tanto a primeira quanto a segunda, não explicam o que realmente aconteceu com a espécie humana, sendo que o planeta passou por sucessivas modificações geológicas, que não permitem o esclarecimento das lacunas deixadas pela natureza. Portanto, versar sobre a consciência, como esta surgiu e se desenvolveu ao longo do tempo no cérebro, continua sendo um grande mistério. Logo, tratar da origem do medo, não é uma tarefa simples para a ciência, já que este fenômeno está atrelado a aspectos arquetípicos, segundo C.G.Jung. Na reflexão de Wilhelm Stekel, poderíamos supor algo aproximado, interligando as fibras nervosas aos níveis mais profundos do organismo, que podem ser levados em consideração apenas como representações instintivas, e jamais alcançando o instinto em si.  Se a via física não permite ao cientista chegar a algo palpável, então não existem meios concretos para falarmos de uma coisa que governa grande parte da vida mental. Sigmund Freud só pôde cercar-se desse assunto, procurando entender as reações do tecido orgânico, através dos aspectos acidentais que afligem o instinto, também entendido como energia vital ou libido. O curso da libido diz respeito ao processo de desenvolvimento do indivíduo no mundo, e está sujeito a uma série de acidentes, ou traumas que ficam registrados ao longo da vida. Otto Rank propôs que a origem do trauma estaria no nascimento, e para Jung, já estaria presente na memória da espécie. Aventar sobre a origem do medo, não seria o caminho ideal, mas a reflexão sobre como este gera consequências ao organismo que procura não somente defender-se de algo vindo de fora, mas também de dentro, e que procuramos a todo custo esconder de nós mesmos, é o que temos para podermos compreender como cada organismo a sua maneira, encontra meios de adaptar-se a esse sentimento que assombra, ou nos desafia.


O sintoma como um sinal de medo imotivado.


Como o medo é parte de um processo interno, inacessível em termos de origem, o paciente precisa estar ciente de que o tratamento consiste em descobrir as possíveis causas e suas relações com o sintoma, e não sobre como certas manifestações reativas desencadeiam sintomas. Seja uma crise de pânico, rituais que caracterizam transtornos obsessivos, ansiedade ou desânimo, o que importa é que o olhar do terapeuta mire as questões levantadas pelo paciente, e também as manifestações expressivas, que são indícios de motivações que levam à produção do quadro. Assim sendo, sentir medo e não saber a relação causal, indica que o indivíduo reage indiretamente a algo significativo, e que não pode se tornar consciente por diversas questões de cunho pessoal. Sua consciência moral conhece os motivos inconscientes que perturbam o organismo, e procura gerar uma censura impedindo o completo reconhecimento de seus tormentos. O paciente resiste sem perceber ao conteúdo escondido, sofrendo desgastes físicos extremados, levando-o ao esgotamento.  Procurar sanar o sintoma, esse determinante de dor, exige do paciente reflexão e posicionamento, para não agravar o quadro, e ignorar os alertas que o corpo emite, embarcando assim, numa acomodação crônica.

 
 
 

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