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Conflitos psíquicos e as relações sintomáticas.

  • Foto do escritor: alexandremorillas65
    alexandremorillas65
  • 8 de set.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 9 de set.

As questões inconscientes na sessão terapêutica.


As queixas apresentadas por pacientes geralmente são consequências da ansiedade em função de um conjunto de fatores, quase nunca sendo uma causa específica isolada, mas uma rede gerada de memórias traumáticas, que formam um caminho inconsciente que leva ao sintoma. O paciente diz: "não sei o que está causando isso, mas me sinto sufocado(a)". Não sabermos o que pode estar causando o sintoma, ou mais de um deles, ocorre em função das defesas que criamos sem perceber, para nos protegermos de coisas na qual não estamos emocionalmente preparados para enfrentar. Isso não quer dizer que essa “coisa” seja algo muito dolorido a ponto de o organismo não suportar, mas é preciso esclarecer como o tratamento pode ser conduzido em casos onde o trauma não pode ser estimulado pelo terapeuta, antes que o paciente por si só apresente condições onde a carga afetiva seja liberada, para poder falar sobre seus dramas pessoais que apresentam peças de um quebra-cabeças, que podem ser compreendidas pelo terapeuta, e que este passe a mediar o sentido dos pontos que são significativos. O alívio da descarga afetiva no decorrer do trabalho terapêutico pode ser um indicativo de melhora, mas também pode ser uma armadilha para o terapeuta desatento, caso este deixe a terapia caminhar para uma situação caótica, onde o paciente passe a orbitar o núcleo do conflito, se acomodando em sessões semanais, sem trazer algo relacionado aos conteúdos, seja no sentido de superação de algumas questões, ou em casos de silêncio, onde os conteúdos permanecem intocados.


A contribuição do paciente.


Todo paciente que procura auxílio psicanalítico precisa ser esclarecido sobre o propósito de sua ida até um consultório.  Que sua contribuição no avanço do processo analítico é importante para que mudanças significativas para melhor, e claro, que o sentido de suas questões siga um rumo para lidar bem com os conteúdos trabalhados, e que esses não sejam mais motivos de travas ou sintomas, mesmo que continuem sendo um peso significativo em suas vidas. O paciente deve ser esclarecido que precisa encontrar a melhor maneira de lidar com questões internas, e não que estas sejam deletadas de seu inconsciente, como se a mente fosse dotada de um programa computacional. Não somos máquinas, somos organismos biológicos, um mistério que a ciência não desvenda, mas que esta  pode contribuir com pistas para melhor entendimento do ser humano.


Proposta de trabalho.


O ideal para que uma terapia seja bem sucedida - e quero com isso dizer que “sucesso”, não signifique que o trabalho terapêutico termine bem ou mal, mas que o foco do problema seja identificado o quanto antes - , é o total esclarecimento para o paciente, sobre como procede o tratamento, e que sua contribuição é fundamental, caso queira sair do problema. O paciente é responsável pelo histórico de sua vida mental e com as consequências que sofre fisicamente. Esclarecidos esses pontos, o paciente estando ciente de que os sintomas podem tomar outros rumos, é um fator crucial para que se recupere o quanto antes, e não dependa de sessões analíticas como uma muleta.


Os conflitos.


Internamente, o paciente luta consigo mesmo. O escritor grego Nikos Kazantzakis, no prólogo de seu livro “A Última Tentação de Cristo”, afirmou que “[...] a raiz de suas alegrias e tristezas consistia na batalha entre o espírito e a carne, e a alma sendo a arena onde esses dois exércitos se entrechocam”.* Isso traduz bem o drama pelo qual a humanidade passa, mas que em algum momento, o indivíduo precisa parar e refletir, se quiser mudar os rumos da história que escreve para si mesmo.  Cabe ao indivíduo, como um estrategista, assumir a responsabilidade e procurar compreender não apenas sobre o que o aflige, mas também sobre como lida desde muito cedo na vida, com as questões do mundo circundante que acabaram sendo interpretadas pela mente, resultando num histórico interior que moldou não apenas a sua maneira de encarar o mundo, mas também a estrutura de seu caráter –  o jeito de ser, registrado nas expressões corporais.


* KAZANTZAKIS, Nikos. A última tentação de Cristo. Tradução de José Geraldo Vieira. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.


Os Sintomas.


A galeria de sintomas que o paciente pode apresentar é vasta. Wilhelm Stekel, um dos primeiros colaboradores da psicanálise, apresentou uma gama enorme de quadros somáticos em sua obra “Estados Nervosos de Angústia”, relatando uma série de manifestações que tenham relações com as causas psicológicas investigadas. A lista abrange: cãibras musculares, tiques nervosos, insônia, problemas hormonais, zoofobias, hipocondria, pavor noturno, problemas estomacais, espasmos do esôfago, formigamentos e muitos outros. Independentemente do sintoma, este aponta que algo inconsciente está procurando meios de se tornar consciente, mas mediante o conflito, o paciente busca manter reprimido o conteúdo que acaba encontrando uma via simbólica desencadeando assim, sintomas de toda ordem.  As crises não podem ser encaradas pelo paciente como a causa em si do problema, o que requer, como mencionei acima, um processo investigatório de possíveis causas. Pela praxe, é recomendável a investigação prévia por parte de um médico, se algum sintoma orgânico não esteja causando desconforto ao paciente, principalmente se o problema é advindo de órgãos internos de importância, como o cardíaco e os digestivos. Com o descarte de relações orgânicas, cabe ao paciente buscar uma solução no campo da psicoterapia psicanalítica, ou outra linha que trabalhe questões de ordem inconsciente, para melhor avaliar o quadro sintomático apresentado.

 
 
 

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