Chomsky e Bergson: o uso livre da linguagem.
- alexandremorillas65

- 15 de set.
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Atualizado: 9 de out.
O uso criativo da linguagem segundo Noam Chomsky.
Este artigo trata de uma faceta da filosofia da linguagem de Noam Chomsky que diz respeito ao desempenho, sobre o uso da linguagem e a todo tipo de processamento interno que não interessa ao estudo do parsing (análise sintática). Pode-se considerar a consciência humana como um conjunto dotado de elementos como conceitos, associações, volição, sistema de conhecimento, sistema de crenças, semântica, fonética, sentimentos, etc. Esses elementos praticamente não são objetos de estudo do cientista da linguagem, pelo fato de a mente humana não fornecer evidências de dados satisfatórios sobre o que poderia estar acontecendo dentro da cabeça, salvo um elemento que permitiu a criação de outro conjunto conhecido por competência linguística, uma competência idealizada para o estudo artificial de sua estrutura computacional : a sintaxe. Esta, sem a participação da fonética e da semântica, passou a integrar um programa iniciado nos anos 1950, conhecido como Gramática Universal. No caso aqui, o tema versa sobre o que se encontra fora do escopo da teoria determinista chomskyana, e que integra o hall dos mistérios que apenas podem ser abordados através da reflexão filosófica. O precursor de Chomsky, Wilhelm Von Humboldt, afirmou que a linguagem seria uma emanação espontânea do espírito que não admite explicações¹. Humboldt falava do uso infinito da linguagem e não o que Chomsky mais tarde reconheceu como um sistema gerativo, uma estrutura computacional. A linguagem para Humboldt integraria não apenas a expressão oral ou escrita, mas toda forma de linguagem possível que é processada internamente. Um exemplo dado por Chomsky, que complementa a extensão da linguagem humboldtiana, é o nosso sistema visual que reconhece rostos e de diferentes ângulos. Como um rosto visto pela segunda vez em uma posição inédita é reconhecido, partindo de um padrão gerado pela primeira vez quando foi visto de outro ângulo? Ou, como é possível usarmos livremente a linguagem, desde a tenra infância, criarmos frases que nunca dissemos antes, e o sistema interno de outra pessoa compreender essas frases inéditas? A ação voluntária também permanece um mistério. Que tipo de sistema biológico permite duas possibilidades de escolha quando decido levantar ou não o braço? Henri Bergson² aprofundou a questão sobre esse fenômeno concluindo que isso só é possível pelo fato de sermos livres, e não previamente determinados por algo que escapa à razão. Bergson critica o determinismo teológico que nega o livre-arbítrio, que Deus, sendo onisciente, já teria de certa forma deixado tudo escrito sobre o destino humano; senão, Ele teria gerado alguma imperfeição. Por que dizemos uma frase de uma maneira e não de outra, ou pegamos aquele objeto em detrimento de outro, implica escolhas de ambos os lados. Se escolho pegar esta borracha e não o lápis, escolhi não pegar o lápis. Se a onipotência divina nos deu a opção de duas escolhas simultâneas, e ambas aparecem diante de nós permitindo que algo tenha um propósito, só podemos concluir disso que temos a capacidade de decidir nosso próprio destino, que uma das escolhas predomina sobre a outra, gerando um novo rumo em função de outro que não podemos avaliar, por ter sido ignorado. Bergson diz que a ideia de liberdade não pode ser a priori, porque ninguém afirmou que essa ideia fosse inata, mas que só podemos falar dela, pelo fato de a percebermos, termos consciência dela, senão, de onde poderia surgir tal ideia, e conclui que o argumento que decide a favor da liberdade humana, provém provavelmente do imperativo categórico kantiano, que é a lei moral. Se esta existe e reconhece o homem como um ser moral, passa a provar a existência da liberdade humana, caso contrário, “qual seria o significado dessa lei, se o homem não fosse livre?”³ . Por mais que Chomsky tenha falado muito sobre os elementos do desempenho, não há quase nada a dizer sobre eles. São completamente inconscientes, ocupando uma área desconhecida da mente-cérebro, mas ao mesmo tempo intrigante e desafiadora para a razão. Chomsky reconhece que a tarefa de perseguir tamanha temeridade não pode parar, e que talvez a ciência um dia possa encontrar algum vestígio e abrir novos rumos para o entendimento da linguagem.
HUMBOLDT, Wilhelm von. Sobre la diversidad de la estructura del lenguaje humano y su influencia sobre el desarrollo espiritual de la humanidad. Barcelona: Anthropos,1990. pp. 27-28.
BERGSON, Henri. Aulas de psicologia e de metafísica. Tradução de Rosemary Costhek Abílio. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
BERGSON, Henri. Aulas de psicologia e de metafísica, Aulas de psicologia, p.295.
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